Como pode a escola, nessa linha, exercer seu papel de coadjuvante da transformação social? Sabemos que escola e sociedade se integram, se interagem. São interfaces que se refletem, que se completam: uma recebe o produto da outra. O projeto pedagógico da escola deve contemplar a realidade vivida pelo aluno, seu cotidiano; contemplar o contexto socioeconômico-cultural, no qual se insere. A contextualização é matéria-prima do currículo. A análise reflexiva do comportamento social é vital para a performance da escola. Os alunos que a freqüentam saem da sociedade, é dela parte integrante. De que características se reveste a sociedade de hoje?
No cotidiano social vivenciamos a violência, a fome, a corrupção, o desemprego, tudo banalizado pela alta freqüência. Estamos nos tornando uma comunidade anestesiada pela repetida violência, que vai minando o organismo social. Presenciamos uma juventude desajustada, psicologicamente envelhecida, renunciando, no uso da droga, a própria capacidade de sonhar. O número de delinqüência juvenil vem aumentando em progressão geométrica. A miséria moral é a mola crescente desse pejo social.
As causas da violência, apontadas por especialistas, ajudam no entendimento e na colaboração que cada instituição – família, escola, igreja, justiça, polícia... – pode dar. Pesquisas realizadas nessa área mostram várias causas, todas girando em torno da família. A ênfase é dada à desestruturação da família. A destruição do casamento vem trazendo uma amarga fatura. A ruptura familiar produz na criança, no jovem, o “rasgão afetivo”, responsável por um desajuste precoce. É como se diz: “A pobreza material castiga o corpo, mas a carência afetiva corrói a alma”. A ausência de vínculos afetivos gera introspecção, frieza, revolta. Sem carinho, a criança cresce sem referenciais.
Quem não aprendeu amor em casa, dificilmente levará amor para a rua. O numero de casas sem pais vem crescendo assustadoramente. Pais ausentes, filhos delinqüentes. Pais fora de casa, filhos entregues à “babá eletrônica”, com suas nefastas conseqüências.
Família sadia é ainda a melhor receita para uma sociedade sadia. Família que reza unida, permanece unida, nos ensina a Bíblia Sagrada. Coelho Neto já nos dizia: “A família é a célula-mater da sociedade” e a sabedoria popular nos adverte: “Colheremos o amargo fruto que a nossa omissão ajudar a semear”.
O resgate da juventude passa, sem dúvida, pela recuperação da família. O jovem precisa buscar sentido na família.
Preconiza-se, como medida salvadora, a volta da família nos moldes tradicionais, fortificando-se os laços familiares. Não adianta o brilho do intelecto se não houver o brilho de sentimento.
Violência e droga são aspectos afins, ambas se prendendo à crise familiar. Uma pesquisa do Ibope, realizada em fins do ano passado, em cinco capitais brasileiras, concluiu que os conflitos familiares, o declínio da família, são a principal causa da entrada dos jovens no mundo da droga. De cada 100 adolescentes entrevistados, 35 alegaram que se drogavam para fugir dos problemas familiares. O segundo motivo, a necessidade de ser aceito pelo grupo, vem bem atrás, 15% dos jovens visitados. Um estudo do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (Cebrid), em setembro de 1999, mostrou que 26% dos jovens brasileiros usaram algum tipo de droga, legal ou não. Hoje, esse número, estima-se ser maior. Nas famílias problemáticas, esse índice era bastante superior.
Uma segunda causa apontada pra o crescimento da violência infanto-juvenil são os jogos eletrônicos. Uma pesquisa realizada, durante 5 anos, pela psicóloga Paula Gomide, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, com 500 crianças e adolescentes, relata: “Cumulativamente, os efeitos da exposição contínua à violência podem causar sérios danos psicológicos”. Especialistas endossam essa afirmativa, demonstrando forte conexão entre a violência transmitida via entretenimento e sua dramática transposição para a vida real. Um dos videogames de maior sucesso, o Carmageddon, revelou-se um autêntico laboratório de crime e perversão. Um garoto de 12 anos assim se manifestou: “Eu acho dez o Carmageddon. É engraçado ver todo mundo se despedaçando. Eu adoraria poder jogar o carro em cima dos pedestres, principalmente idosos. É legal ver o velhinho sair correndo e a gente atrás”. É uma apologia ao comportamento destrutivo, indiferente ao sofrimento humano, antes, estimulador.
Essa precoce carga de perversidade pode estar na origem de comportamentos patológicos, excessivamente agressivos. No próximo artigo, continuaremos abordando o assunto, refletindo sobre novas causas da violência.
* Supervisora de ensino aposentada.
(Publicado em maio/2000)
(Publicado em maio/2000)
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