Texto de Demora Mota
Em minhas visitas aos blogs de colegas, tomei conhecimento do caso Casey Heynes, adolescente de uma escola australiana que sofria bullyng até resolver reagir, atirando o seu agressor ao chão. O caso alcançou repercussão mundial e Haynes tornou-se o herói da garotada oprimida ao redor do mundo. Quando vi o vídeo, a primeira coisa em que pensei foi "cadê os professores dessa escola?". Meu primeiro impulso foi criticá-los e acusá-los no mínimo de omissão, com a arrogância de quem vê tudo de fora.
Passado o primeiro choque (não que algo ainda me deixe chocada), pude refletir melhor sobre a dificuldade em lidar com situações dessa natureza. O ambiente de trabalho dos professores é a escola, não o presídio. professores não foram "inventados" para apartar brigas. A Revista Nova Escola, que eu adoro e não perco uma edição, publicou uma matéria, ao meu ver, um tanto quanto ingênua sobre o assunto. Mas quem sou eu, uma professora como outra qualquer, para discordar ou, pior ainda, chamar de ingênua uma matéria de uma revista tão importante? Bem, sou uma professora como outra qualquer. Como aqueles da escola de Casey Heynes, como aqueles da escola municipal de onde o vento faz a curva, como aqueles da faculdade celestial dos que não pisam no chão para não macular a alma. Sou uma professora como você.
Antes, porém, de comentar aquele meu ponto de vista, quero concordar com a matéria quando ela diz que não adianta falar sobre bullyng se os próprios professores praticam bullyng. É incrível como vemos isso acontecer, seja consciente ou inconscientemente. Mesmo que seja quando o professor resolve fingir que não ouviu a pergunta daquele aluno "burrinho" (sim. É assim que se referem a ele na sala dos professores) para não ter que perder tempo com ele. Eu acredito que ser professor tornou-se um "melhor que nada" para garantir um dinheirinho no final do mês e falar em vocação tornou-se piegas. Desse modo, o professor atento às consequências de sua postura e atitude diante dos alunos virou diamante. Concordo também com o diálogo entre a escola e os pais tendo a finalidade de assumirem em conjunto a responsabilidade sobre as atitudes dos estudantes, desde que haja planejamento para isso e não aconteça com um simples aperto de mão e café quentinho.
O que me pareceu ingênua foi a sugestão de como lidar com o bullyng. E aí nós caímos naquela teclinha chata que tem sido batida há tanto tempo. Nossa escola é a mesma dos nossos avós e dos pais deles. Aplicar um questionário (com injeção?), conversar sobre o assunto, assistir à um filminho... Sinceramente, você acredita mesmo que o bonitão que colocou fezes dentro da mochila do colega vai se comover com isso? Até quando nós iremos subestimar nossas crianças? Ou superestimar, já que a proposta é resolver tudo na conversa. Conversa só funciona com quem é de conversa. É necessário realmente que haja debates e conhecimento sobre o assunto, porque não se deve lutar contra inimigo desconhecido. O diálogo é um passo sim, e não deve ficar de fora. Mas é melhor não esperar que ele faça milagres.
Outra fragilidade que me comoveu bastante foi a idéia de que a criança só pratica o bullyng se tem plateia. Discordo plenamente. A menininha gorda não sofre somente quando é chamada de baleia pela colega que brilha "nos palcos", ela lancha sozinha enquanto as outras estão em grupo tirando fotos para o facebook, e isso dói. E ela só está sozinha porque as outras não acham que ela é interessante o suficiente. Bullyng não é apenas o show de pancadas. Se fosse só isso seria menos difícil. Violência psicológica também é bullyng. Não se pode esquecer disso.
Claro que as orientações publicadas na matéria foram boas e úteis. Especialmente em relação ao incentivo à reação daqueles que sofrem bulling. Mas, na minha opinião, foi ingênua. Quisera eu ser capaz de encerrar esse texto com receitas; mas como não sou o faço apenas com elogios àqueles que se propõem à contribuir para o combate à esse problema. Em tempos de fome todo pedaço de pão é luxo e nós estamos famintos por respostas. A resposta é o diálogo? Não sei. Acredito que não apenas. O que eu sei é que se os professores se omitem, na maioria das vezes é porque não sabe mesmo o que fazer. Eles também choram quando chegam em casa.
Em minhas visitas aos blogs de colegas, tomei conhecimento do caso Casey Heynes, adolescente de uma escola australiana que sofria bullyng até resolver reagir, atirando o seu agressor ao chão. O caso alcançou repercussão mundial e Haynes tornou-se o herói da garotada oprimida ao redor do mundo. Quando vi o vídeo, a primeira coisa em que pensei foi "cadê os professores dessa escola?". Meu primeiro impulso foi criticá-los e acusá-los no mínimo de omissão, com a arrogância de quem vê tudo de fora.
Passado o primeiro choque (não que algo ainda me deixe chocada), pude refletir melhor sobre a dificuldade em lidar com situações dessa natureza. O ambiente de trabalho dos professores é a escola, não o presídio. professores não foram "inventados" para apartar brigas. A Revista Nova Escola, que eu adoro e não perco uma edição, publicou uma matéria, ao meu ver, um tanto quanto ingênua sobre o assunto. Mas quem sou eu, uma professora como outra qualquer, para discordar ou, pior ainda, chamar de ingênua uma matéria de uma revista tão importante? Bem, sou uma professora como outra qualquer. Como aqueles da escola de Casey Heynes, como aqueles da escola municipal de onde o vento faz a curva, como aqueles da faculdade celestial dos que não pisam no chão para não macular a alma. Sou uma professora como você.
Antes, porém, de comentar aquele meu ponto de vista, quero concordar com a matéria quando ela diz que não adianta falar sobre bullyng se os próprios professores praticam bullyng. É incrível como vemos isso acontecer, seja consciente ou inconscientemente. Mesmo que seja quando o professor resolve fingir que não ouviu a pergunta daquele aluno "burrinho" (sim. É assim que se referem a ele na sala dos professores) para não ter que perder tempo com ele. Eu acredito que ser professor tornou-se um "melhor que nada" para garantir um dinheirinho no final do mês e falar em vocação tornou-se piegas. Desse modo, o professor atento às consequências de sua postura e atitude diante dos alunos virou diamante. Concordo também com o diálogo entre a escola e os pais tendo a finalidade de assumirem em conjunto a responsabilidade sobre as atitudes dos estudantes, desde que haja planejamento para isso e não aconteça com um simples aperto de mão e café quentinho.
O que me pareceu ingênua foi a sugestão de como lidar com o bullyng. E aí nós caímos naquela teclinha chata que tem sido batida há tanto tempo. Nossa escola é a mesma dos nossos avós e dos pais deles. Aplicar um questionário (com injeção?), conversar sobre o assunto, assistir à um filminho... Sinceramente, você acredita mesmo que o bonitão que colocou fezes dentro da mochila do colega vai se comover com isso? Até quando nós iremos subestimar nossas crianças? Ou superestimar, já que a proposta é resolver tudo na conversa. Conversa só funciona com quem é de conversa. É necessário realmente que haja debates e conhecimento sobre o assunto, porque não se deve lutar contra inimigo desconhecido. O diálogo é um passo sim, e não deve ficar de fora. Mas é melhor não esperar que ele faça milagres.
Outra fragilidade que me comoveu bastante foi a idéia de que a criança só pratica o bullyng se tem plateia. Discordo plenamente. A menininha gorda não sofre somente quando é chamada de baleia pela colega que brilha "nos palcos", ela lancha sozinha enquanto as outras estão em grupo tirando fotos para o facebook, e isso dói. E ela só está sozinha porque as outras não acham que ela é interessante o suficiente. Bullyng não é apenas o show de pancadas. Se fosse só isso seria menos difícil. Violência psicológica também é bullyng. Não se pode esquecer disso.
Claro que as orientações publicadas na matéria foram boas e úteis. Especialmente em relação ao incentivo à reação daqueles que sofrem bulling. Mas, na minha opinião, foi ingênua. Quisera eu ser capaz de encerrar esse texto com receitas; mas como não sou o faço apenas com elogios àqueles que se propõem à contribuir para o combate à esse problema. Em tempos de fome todo pedaço de pão é luxo e nós estamos famintos por respostas. A resposta é o diálogo? Não sei. Acredito que não apenas. O que eu sei é que se os professores se omitem, na maioria das vezes é porque não sabe mesmo o que fazer. Eles também choram quando chegam em casa.
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