.....Por que aquilo que representa a felicidade do homem acaba se transformando, um dia, na fonte de sua desdita? Por que tem de ser assim?
.....O sentimento intenso, cálido pela natureza palpitante, que me inundava de felicidade, transformando em paraíso o mundo ao meu redor, tornou-se agora para mim, um suplício insurpotável, um tormento que me persegue por toda parte. Outrora, quando do alto do rochedo, para além do riacho, via o vale fértil estendendo-se até as colinas, e tudo germinava e frondejava em torno de mim; [...] quando, aos zunidos e movimentos ao redor, meus olhos se voltavam para o chão, e o musgo que extrai seu alimento da rocha dura, os arbustos que crescem na encosta da colina arenosa, tudo isso me revelava a vida interior, ardente e sagrada da natureza: com quanta ternura abrigava todo este universo no meu coração amoroso! Tomado pela emoção transbordante, sentia-me como um deus, e as imagens maravilhosas deste mundo infinito invadiam e vivificavam a minha alma. [...]
.....Meu irmão, a lembrança daquelas horas me faz bem. Até mesmo o esforço de evocar aqueles sentimentos indizíveis e expressá-los traz alento à minha alma, mas faz com que, em seguida sinta duplamente a angústia do estado em que me encontro agora.
.....É como se um véu se tivesse rasgado diante da minha alma, e o palco da vida infinita transforma-se, para mim, no abismo de um túmulo eternamente aberto.[...] E assim sigo meu caminho inseguro, amedrontado. Em torno de mim, o céu, a terra e suas forças ativas: nada vejo além de um monstro eternamente devorador, um ruminate eterno.
GOETHE, Johann Wolfgang von.
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LáahRodrigues
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